Um belo dia, ao entrar no meu prédio deparo-me com Maria Joaquina, ela me diz :
- João já é hora.
Pergunto-me angustiado e fingindo não entender as palavras que em meu ouvido adentrara, como se as vibrações sonoras tivessem distorcido-se no ar impedindo-me de entender qualquer palavra :
- O que? Não entendi!
Maria joaquina profere, novamente:
-João já é hora.
Antes de prosseguir, devo-lhes uma explicação dos fatos que antecederam este diálogo. Sempre fui uma pessoa desacreditada no amor, casar pra mim era simplesmente um sinal de fraqueza, um modo de suprir carências emocionais projetando um peso sobre outrem( "o ser amado"). Devido a essa descrença meu corpo entrelaçou-se a vários outros e gozou dos mais altos delírios voluptosos que a vida libertina pode trazer ao homem.Mas acontece que o amor é traiçoeiro e a vida nos prega peças, quando menos imaginamos.
Em uma de minhas noites de bohemia, conheci Vitória e fiquei encantado e surpreso.Ela tinha uma beleza hipnotizante, idieias cultas misturavam-se com seus sonhos pueris, tinha um pique de tirar o fôlego de qualquer um na dança...não enumerarei a riqueza de descrições que fazem de Vitória um ser único no mundo, deixo a mercê da imaginação de cada um.
Após vários encontros com Vitória consegui um simples beijo , só que ela já tinha o meu coração na mão.Eu não sabia como reagir diante do turbilhão de emoções que se expressavam em todos cantos de meu corpo, meu coração estava contra todas as ideias que defendi em minha trajetória, a minha filosofia de vida descera pelo ralo entupido que trazia no cheiro sua lembrança.
Mais filha da puta ainda, a vida foi quando descobri que a construção da imagem de mulher fixada em minha mente foi bombardeada por um pênis. Por um pênis!Por um pênis! Não houve adultério, era simplesmente um pênis!Descobri que Vitória tinha algo entre as pernas diferente do que as mulheres têm.
-Meu Deus, o que fiz para merecer tal carma?Que vida desgraçada me destes!
Meu amor por Vitória era forte, não consegui abandoná-la, com muito custo acabei adaptando-me a ideia do pavoroso pênis.Escondia-a de todos e, aos poucos, fui ofuscando seu brilho, privando-a de viver, impedindo-a de expor-se e entristecendo quem eu tanto amava. Algum momento de epifania surgiu em sua vida, pra minha desgraça, ela decidiu ter vida novamente com ou sem a minha presença isso caberia a mim.
Da minha História com Vitória, somente quem sabia era a Maria Joaquina e o dia em que ela me falou que já era hora eu sabia o que isso significava, pois aquela data era o momento decisivo da minha vida ou eu ficaria só, ou trilharia meu caminho junto a Vitória.
Minha boca dizia :
-Vá embora, nunca mais quero ver tal aberração na minha frente.
Meu coração gritava:
- Por favor, fique comigo pra sempre.
Nunca esquecerei-me deste dia. Vitória aos prantos, subitamente, correu em direção a varanda e jogou-se do 20° andar de meu apartamento. De nada adiantou esconder o meu romance, todas a mídias veicularam o ocorrido e hoje vivo amargurado por ter sido covarde com quem mais amava nesse mundo.