terça-feira, 3 de maio de 2011

Homossexualidade e uma mãe cristã



 

Ficha Técnica - Filme "Orações para Bobby"

Título Original:Prayers for Bobby
Gênero:
Biografia, Drama
Direção:
Russell Mulcahy
Roteiro:
Katie Ford (II), Leroy Aarons








Análise Crítica do Filme.

Mary é um exemplo de mãe que rege a sua vida, e impele a sua família a fazer o mesmo, segundo os preceitos estabelecidos por sua religião. Sem dúvidas, ela é uma mulher com bastante fé na Instituição religiosa que é adepta e aceita sem muitas mediações de seu raciocínio toda a ideologia tradicional da Igreja.”O brilho cego de paixão e fé , faca amolada”( Milton Nascimento- Ronaldo Bastos)
Seu filho, Bobby, se descobre gay, e isso, cria um conflito que desarmoniza a consolidação de uma “família perfeita”. Essa característica singular é combustível para que o papel de “cristã”, fiel aos seus princípios e adversa à homossexualidade, sobressaia ao papel de mãe compreensiva. Mary entorpecida por sua crença procura buscar uma cura para aquilo que, segundo ela, seria uma doença.
“A religião é o soluço da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, o espírito de uma situação carente de espirito. É o ópio do povo.” (Marx, Karl. 1843)
Sua veemente busca para a cura de seu filho associada ao preconceito oriundo da religião afasta-a cada vez mais dele. Os laços de amor entre mãe e filho ficam turvos, a medida que Mary foca na característica sexual de Bobby. Ela passa a ver seu filho como um homossexual, e não como um ser humano que deve ser amado e respeitado como tal. Para ilustração observe o diálogo extraído do filme:
 -Me desculpe! Eu não sou o Bobby perfeitinho que você sempre quis! Mas não posso continuar pedindo perdão por isso, mãe!Aceite-me como sou ou esqueça!
 -Eu não vou ter um filho gay.
 -Então, mãe, não tem um filho.
-Ótimo
As atitudes nocivas de Mary em relação a homossexualidade acarretaram um grande sofrimento para ela mesma e para seu filho. Ela não tinha capacidade de aceitar que a imagem de sua família, e, mais que isso, a conquista do “reino dos céus” à um ente querido, fora comprometida. Por outro lado, Bobby, por não se encaixar nos padrões de normalidade, vivia em confronto consigo mesmo e no auge de seu desespero ele encontra conforto no suicídio, ato pelo qual o guiará direto ao inferno, de acordo com as crenças religiosas expostas na narrativa.
minxha família...já os ouvi demais. Disseram que odeiam gays. E que até Deus odeia gays. Isso me assusta muito porque agora estão falando sobre mim. Eu não quero escolher o pecado. Não quero. Estou tão chateado que estou frustrando Deus. Parece que estou no fim da estrada. Por que continuas em silêncio?(Bobby)
Mary vê seu filho servir de exemplo na sua Igreja, pois  “devemos condenar o pecado, não o pecador, foi a este pecado que Bobby sucumbiu. E isso o levou à infelicidade. E o levou a tomar a sua própria vida.”(Líder religioso da Igreja de Mary). Sua preocupação como pessoa cega pela religião é a de saber se seu filho vai ao inferno ou teve tempo de conquistar o reino dos céus. Devido a isso, seu momento epifania é encontrado após seus diálogos com o reverendo Whitsel, pastor de uma Igreja que aceita gays. A morte de seu filho adicionada a outro olhar interpretativo sobre a Bíblia desencadeou uma reação, que Mary ainda não tinha testado, a adoção de um postura crítica diante de sua fé. A pesquisa e o esclarecimento tiram-na do pântano da ignorância e do conformismo religioso.
Percebemos que aquela mãe de família, entorpecida e empenhada na defesa e execução de seus princípios, libertou-se da ditadura religiosa. Ela foi além do conformismo habitual que muitos, em nossa sociedade, têm perante as imposições religiosas. Ela foi capaz de perceber que os conceitos que aprendera durante sua vida, e que deveriam proliferar o amor, levaram-na a tomar medidas destrutivas em relação ao seu filho. Com isso, o personagem nos leva a um questionamento sobre como conduzimos nossas vidas em virtude da óptica de outros cuja legitimidade nós consolidamos e que devemos saber aproveitar as pessoas que amamos independente de nossas diferenças.
A personagem Mary é só um exemplo de muitas outras espalhadas pelo mundo afora. Componente integrante de uma narrativa baseada em fatos reais, ela certamente se porta de forma similar a diversas outras mães ao descobrir a homossexualidade de seu filho. Espera-se que os limites da vida não sejam ultrapassados para acordar as outras “Mary” espalhadas. As palavras de Mary finalizam essa resenha:
“ ‘Homossexualidade é um pecado. Homossexuais estão condenados a passar a eternidade no inferno.Se quisessem mudar, poderiam ser curados de seus hábitos malignos. Se desviassem da tentação, poderiam ser normais de novo. Se eles ao menos tentassem e tentassem de novo em caso de falha.’, Isso foi o que eu disse ao meu filho, Bobby, quando descobri que ele era gay. Quando ele me disse que era homossexual, meu mundo caiu. Eu fiz tudo que pude para curá-lo de sua doença. Há oito meses, meu filho pulou de uma ponte e se matou. Eu me arrependo amargamente da minha falta de conhecimento sobre gays e lésbicas. Percebo que tudo que me ensinaram e disseram era odioso e desumano. Se eu tivesse investigado além do que me disseram, se eu tivesse simplesmente ouvido o meu filho quando ele abriu o coração para mim...Eu não estaria aqui hoje, com vocês arrependida. Eu acredito que Deus foi presenteado com o espírito gentil e amável do Bobby. Perante Deus, gentileza e amor é tudo. Eu não sabia que, cada vez que eu repetia condenação eterna aos gays...Cada vez que eu me referia a Bobby como doente e pervertido e perigoso ás nossas crianças...Sua auto-estima e seu valor próprio estavam sendo destruídos. E finalmente seu espírito se quebrou além de qualquer conserto. Não era o desejo de Deus que Bobby debruçasse sobre o corrimão de um viaduto e pulasse diretamente no caminho de um caminhão de dezoito rodas que o matou instantaneamente. A morte do Bobby foi resultado direto da ignorância e do medo de seus pais quanto à palavra “gay”. Ele queria ser escritor. Suas esperanças e seus sonhos não deveriam ser tomados dele, mas se foram. Há crianças como Bobby esperando que vocês saibam, elas estarão ouvindo enquanto vocês ecoam ‘amém’. E isso, logo silenciará as preces delas. Suas preces para Deus por entendimento, aceitação e pelo amor de vocês. Mas o seu ódio, medo e ignorância da palavra ‘gay’ silenciarão essas preces. Então, antes de ecoar ‘amém’ na sua casa e no lugar de adoração, pensem. Pensem e lembrem-se que uma criança está ouvindo.”

Um comentário:

  1. Parece ser um filme realmente impactante.. E interessante, triste o fim. E mais triste saber da intolerância das pessoas.
    O amor de Deus é infinito e grandioso não se apega a preconceitos estúpidos. Ele é maior que isso.
    Gostei muito, quero ver o filme!

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